Aos poucos, vai-se publicando cada vez mais sobre cinema em Portugal. Literatura não restrita a cinéfilos, mas a pensar neles, com olhares que veem a 7.ª Arte e os seus autores pelas lentes da filosofia, da história, ou simplesmente da sensibilidade pessoal. Eis três edições recentes que preenchem todos os requisitos.

Ines N. Lourenço 01 Dezembro 2023 — 07:00 Diário de Notícias

Da autora de Projetar a Ordem: Cinema do Povo e Propaganda Salazarista chega-nos um novo olhar sobre o luso-orientalismo na filmografia produzida à época do Estado Novo em torno da chamada “Ásia portuguesa”. Maria do Carmo Piçarra, investigadora que tem desbravado caminho no estudo deste período, em particular no que à ação propagandística do regime diz respeito, propõe agora, nesta edição da Tinta-da-China, uma análise à escassa cinematografia existente, que permite abordar o caráter simbólico do território das ditas comunidades imaginadas – o Oriente português -, e a mudança que se operou nessa condição de escassez de registos/filmagens após o início das tensões entre Portugal e a Índia (a “questão de Goa” e as guerras de libertação).

Na sua pesquisa aprofundada em terreno bastante limitado, a autora descobre e dá a conhecer pérolas como, por exemplo, uma ficção rocambolesca em língua concani. Mas a ausência de material não deixa de ser um tema forte, que ocupa boa parte do primeiro capítulo: “Quanto a esta falta de estudo, clarifique-se que, além da produção sobre o Oriente ser tardia e escassa, materializou-se sobretudo em documentários, género propagandístico de uso preferencial pela ditadura, pelo menor custo de produção e pela maior imediatez na disponibilização de obras acabadas. Ora, historiograficamente, a análise da produção ficcional de longa-metragem tem sido predominante (…). Acresce a esta circunstância que, em Portugal, até os estudos fílmicos terem ganho um fôlego importante nas três últimas décadas, a história do cinema português não foi feita por historiadores ou académicos. Como notou Paulo Cunha, foi escrita “por curiosos, entusiastas e autores que estavam comprometidos com o próprio objeto”.”

Artigo na íntegra aqui: https://www.dn.pt/cultura/o-cinema-na-pagina-3-novidades-nas-livrarias–17428616.html