Carolina Ferreira Baptista concluiu a sua investigação em Ciências da Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa, em Junho de 2024. Com um percurso dedicado à Cultura Contemporânea e à Linguagem, a investigadora dedicou-se ao estudo das práticas discursivas na anorexia nervosa, num projecto iniciado no final de 2020 e que culminou com a defesa pública da dissertação Do Imperceptível: Uma Analítica da Comunicabilidade na Anorexia Nervosa, sob orientação das professoras Maria Augusta Babo (ICNOVA) e Isabel do Carmo (FMUL).
A investigação moveu-se num único eixo: a instanciação do movimento – o movimento ágil do pensamento e da manutenção da actividade na construção subjectiva – enquanto ponto de partida e de chegada na anorexia nervosa. De acordo com o seu trabalho, a doença, distendendo-se para lá da concretude de um eu, encontra na subjectividade uma malha pulsional, propensa à reunião de elementos dispersos, contraditórios e, claro, alheios à consolidação de modelos clínicos, culturais e teóricos. A sua apresentação enquanto projecto de subjectivação revelou, antes de mais, o carácter imprescindível do movimento na sua consolidação. O sujeito torna-se anoréctico, não é anoréctico. É também por isso que a proposta de uma analítica da comunicabilidade anoréctica se revelou um exercício móvel e dinâmico, nunca esquecendo o gesto que orientou o estudo: a problematização.
Ao fixar a anorexia nos termos da subjectividade e da sua dimensão imperceptível, indagou-se a possibilidade de reunir os elementos contraditórios e opacos (comer e não comer, mover-se ou imobilizar-se, etc.), longe de uma síntese exaustiva do que poderá figurar na descrição comum da patologia. Contra a evidência do corpo emagrecido e da profusão sintomatológica, necessariamente ostensiva para o Outro, a auto-restrição surge como força motriz da anorexia nervosa – o labor necessário para se tornar anoréctico parte da sua capacidade para se conter. Assim, a auto-restrição corresponde ao indicador pulsional do esquema subjectivo anoréctico – antes, durante e depois do corpo patológico.
Assim, na assunção do carácter transitório da subjectividade anoréctica, só o discurso enformou o que se pretendia com a aspiração à correspondência entre as teses defendidas e o objecto analisado. Para enquadrar a doença no dinamismo da subjectividade foi preciso atender às suas manifestações vivas, isto é, ao seu movimento. Por isso, foi no discurso que se encontrou uma via de acesso à comunicabilidade anoréctica – não fosse a boca o lugar onde comida, fala e afecção enformam o principar do sujeito-anoréctico.
As principais conclusões podem sintetizar-se nas formulações seguintes:
- A subjectividade responde à natureza pulsional e contraditória da patologia, contra a rigidez dos modelos de auto-objectificação.
- A auto-restrição é o principal marcador da subjectividade anoréctica.
- Verifica-se uma correlação entre a subjectividade anoréctica e a matriz cultural contemporânea.
A investigação ainda foi destaque em uma série de notícias nos media:
- Expresso: Anorexia. O bicho pegajoso que teima em não sair
- Podcast Geração Z – Rádio Renascença: É “antinatura” e também afeta os homens. Como é que se vive com um distúrbio alimentar? – Renascença – Geração Z – Omny.fm
- Artigo Rádio Renascença: É “antinatura” e também afeta os homens. Como é que se vive com um distúrbio alimentar? – Renascença
- Público: Carolina fala com pessoas com anorexia para entender a doença que enfrentou — e enfrenta | Saúde mental | PÚBLICO
A tese está disponibilizada no repositório da UNL aqui: RUN: Do Imperceptível: Uma analítica da comunicabilidade na Anorexia Nervosa
Biografia
Carolina Ferreira Baptista é investigadora no ICNOVA e Responsável de Comunicação das Relações Internacionais e dos Assuntos Internos no INL – Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologia. Foi Professora Assistente Convidada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e continua a dedicar-se à investigação especializada em Comunicação e Linguagens. Oriunda de Lisboa, vive actualmente em Braga.